Páginas

sábado, 4 de junho de 2011

"A Menina que Roubava Livros", Markus Zusak

Para dar sequência a série de "best-sellers" da atualidade, exponho um livro muito tocante e bem elaborado, outra excessão à minha regra de que os novos autores publicam livros vazios.
"The Book Thief", escrito por Markus Zusak e publicado em 2006, é um romance contemporâneo, que retrata a vida numa Alemanha pobre durante a Segunda Guerra Mundial de uma maneira apaixonante e sutilmente trágica.
O livro é narrado pela morte, que nos conta a história de Liesel Meminger, uma menina que atravessou sua vida três vezes e conseguiu, dessa maneira, ganhar a afeição da colhedora de almas.

"É só uma pequena história, na verdade, sobre, entre outras coisas: 
* Uma menina 
* Algumas palavras 
* Um acordeonista 
* Uns alemães fanáticos 
* Um lutador judeu 
* E uma porção de roubos 
Vi três vezes a menina que roubava livros."
O primeiro encontro das duas se dá no dia da morte do irmão de Liesel, durante uma fuga que ela fazia com sua mãe. Nesse dia, nossa ladra inicia sua série de roubos de livros, roubando o "Manual do Coveiro", depois do enterro de seu irmão. A mãe da menina, comunista e fugitiva, leva ela para viver na rua Himmel, onde era mais seguro. O casal Hubberman fica responsável de cuidar da menina. São pessoas de vida simples, mas que, ao longo do tempo, ensinam a Liesel diversas lições sobre a vida, a solidariedade e o amor verdadeiro. Hans, o pai adotivo de Liesel, cria um vínculo muito forte com a menina, vínculo este formado através da paixão pela leitura. Outra forte amizade feita pela garota é com seu vizinho, Rudy Steiner. A princípio, os dois não se davam muito bem, mas, como é comum das histórias, aos poucos eles vão adquirindo sentimentos muito fortes um pelo outro, o que poderia vir a tornar-se mais que amizade, não fosse a morte de Rudy ainda bastante jovem. Confesso que este personagem me fascina de uma maneira que não consigo explicar. Mas, ao que parece, não é só a mim:

"E não sou muito boa nessa história de consolar, especialmente quando tenho as mãos frias e a cama é quente. Carreguei-o  com delicadeza pela rua destroçada, com sal nos olhos e o coração mortalmente pesado. Observei por um instante o conteúdo de sua alma, e vi um menino pintado de preto, gritando o nome de Jesse Owens ao cruzar uma fita de chegada imaginária. Vi-o afundado até os quadris em água gelada, perseguindo um livro, e vi um garoto deitado na cama, imaginando que gosto teria um beijo de sua gloriosa vizinha do lado. Ele mexe comigo, esse garoto. Sempre. É sua única desvantagem. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar.  
[...] 
— Vamos, Jesse Owens... 
Mas o menino não acordou. 
Incrédula, Liesel afundou a cabeça no peito de Rudy. Segurou seu corpo amolecido, tentando impedir que pendesse para trás, até que precisou devolvê-lo ao chão massacrado. E o fez com delicadeza. 
Devagar.  
Devagar. 
— Meu Deus, Rudy... 
Inclinou-se, olhou para seu rosto sem vida, e então beijou a boca de seu melhor amigo, Rudy Steiner, com suavidade e verdade. Ele tinha um gosto poeirento e adocicado. Um gosto de arrependimento à sombra do arvoredo e na penumbra da coleção de ternos do anarquista."
Os Hubberman, pessoas de grande coração, acolhem um judeu fugitivo chamado Max, com quem Liesel também faz fortes laços de amizade.
A morte de Rudy é seguida da morte de quase todos os outros personagens, inclusive do querido "papai". A única sobrevivente é nossa pobre ladra de livros, que, trancada no porão, não é atingida pelo bombardeio que destroça toda a rua Himmel. Ela fica sozinha. Mas a história não acaba aí e, de certa forma, o livro busca um final, talvez não feliz, mas com certeza menos triste. No fim, ela reencontra seu querido Max.
"Por fim, em outubro de 1945, um homem de olhos alagadiços, plumas de cabelo e rosto escanhoado entrou na loja. Aproximou-se do balcão. 
— Há alguém aqui com o nome de Liesel Meminger? 
— Sim, ela está lá nos fundos — disse Alex. Ficou esperançoso, mas queria ter certeza. — Posso perguntar quem a está procurando? 
Liesel saiu. 
Os dois se abraçaram e choraram e desabaram no chão. "

Há uma incógnita no romance em termos de seu sentimentalismo. Por ser contado pela morte, deveria ser de certa maneira frio e pouco minucioso. No entanto, até a morte comove-se com a história da pequena Liesel e nós, pobres leitores, somos incapazes de não nos envolver e sofrer junto com a menina.
Os personagens - com excessão de alguns, como Hans Hubberman - de certa maneira reprimem seus sentimentos.A personalidade de Rosa Hubberman é um exemplo dessa frieza contraditória, pois, de uma maneira geral, demonstra falta de sentimentos, mas em certos instantes, é perceptível seu amor pelas pessoas que a rodeiam. Outro exemplo é a dificuldade que Liesel tem de demonstrar seus sentimentos a Rudy - ela o amava. A menina possui um caráter fechado, consequência das terríveis situações que vivera, mas, por outro lado, abre completamente seu coração a seu "papai" e a Max.
Um caráter interessante no livro é o fato de apresentar a morte como uma mera "operária", responsável por recolher as almas sem vida. A face assustadora do personagem "morte" é completamente desmistificada: ela não é mais a responsável por tirar a vida. Na verdade, nunca fora, e, mesmo assim, aprendemos a temê-la. Os verdadeiros culpados são apresentados na obra: os homens.
O livro nos arrebata, nos tira de nossa zona de conforto, nos apresentando uma realidade longínqua e, nos dias de hoje, nada comum. Os destroços da guerra, tanto físicos quanto psicológicos (deixados em Liesel), são expostos de uma maneira trágica, porém doce; sentimental, na tentativa de ser fria e objetiva.
Ainda que se passando durante a Segunda Guerra Mundial, é uma história de amor e esperança. Ainda que contada de maneira distante, nos prende da primeira a última página. Particularmente, reconheci-me na paixão de Liesel pelos livros, identificando-me com ela. Da mesma maneira, no decorrer do livro, podemos nos encontrar na personalidade de cada um dos personagens.
Finalizo esse post como a morte finaliza seu livro e faço minhas suas palavras:

"• UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA • 
Os seres humanos me assombram."

Video-curiosidades:

Já foi dada a confirmação de que esta obra tão magnífica ganhará adaptação cinematográfica. A Fox Films comprou os direitos autorais e há rumores de que o filme seja dirigido por Tim Burton. Essa última informação, no entanto, é incerta. Só nos resta esperar!

3 comentários:

  1. É definitivamente meu livro preferido! Já li quatro vezes chorei em todas copiosamente nas mesmas partes. E é impressionante, toda vez que leio de novo descubro uma frase diferente que me toca de um jeito diferente : )

    Feliz/triste por saber que vai ter filme. Feliz pq acho bacana a ideia de ver no cinema essa historia, mas a atriz que eu achava legal pra fazer a Liesel ja cresceu demais : ( Seria a Dakota Fanning, acho ela perfeita.

    No mais, adorei sua análise, Yanna! Beijinhos :*

    ResponderExcluir
  2. Excelente comentário sobre um excelente livro, Yanna!
    Primeira vez que leio o blog, comecei com o pé direito!
    Parabéns pela sua habilidade de comentar um livro que deveria ser literatura essencial pra todo mundo.
    Um abraço!

    ResponderExcluir
  3. também acho muito interesante este livro! estou acabando de ler, a historia é realmente instigante

    ResponderExcluir