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quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Orgulho e Preconceito", Jane Austen

Escrito por Jane Austen e publicado, pela primeira vez em 1813, "Pride and Prejudice" (Orgulho e Preconceito) é uma bela comédia de costumes, de enredo rico e pretensioso, que é um retrato fiel, divertido e inteligente da sociedade inglesa do século XIX.
Elizabeth Bennet é a mais centrada das cinco filhas de Mr. Bennet. Sua doce e meiga irmã Jane é sua grande amiga e confidente, que tem, inerente a sua personalidade, a capacidade de só ver o melhor em cada um. O livro se inicia com a chegada na cidade de Mr. Bingley, um rapaz bonito, rico e solteiro que deixa todas as moças e sua mães, incluindo a própria Mrs. Bennet, em euforia e excitação para conseguir um bom casamento para suas filhas. No desenrolar inicial do romance, temos a impressão de que nossos protagonistas são, na verdade, os apaixonados Mr. Bingley e Jane Bennet e podemos pensar, inclusive, que o vilão da história é o sarcástico e preconceituoso Mr. Darcy.
Elizabeth, bem como toda a cidade, logo no primeiro baile em que Mr. Darcy surge, tem uma péssima impressão de seu temperamento e personalidade e começa acusá-lo internamente de prepotente. Ela acredita que ele tem uma propensão a odiar todo mundo. Da mesma maneira, o preconceito de Mr. Darcy faz com que ele veja as pessoas daquele interior como interesseiras e mesquinhas, o que não é de fato uma falsa afirmação, em se tratando das irmãs mais novas e da própria mãe de Elizabeth. Muitos personagens surgem, no decorrer da história, para reafirmar uma possível falta de caráter e um péssimo temperamento em Mr. Darcy. Em determinado ponto da trama, no entanto, não apenas nós, leitores, mas a própria Elizabeth se dá conta de que todo o orgulho e o preconceito que ela vira em Mr. Darcy de repente podia ser percebido nela mesma com relação a ele. Sua inocência de garota de 20 anos, no entanto, a cega para o fato de que as pessoas não podem ser julgadas pelo que demonstram com suas aparências. Ela percebe que ele não é apenas um homem, educado, honesto e de caráter, como também é um homem bondoso e até solidário. Ele, por outro lado, começa a perceber as verdadeiras qualidades dela. O que eles não conseguem perceber é que dividem uma mesma linha lógica e racional de pensamento e tem tendência a encontrar defeitos na personalidade das outras pessoas, ou seja, eles são, na verdade, muito parecidos nesse aspecto. Aos poucos, Mr. Darcy e Elizabeth aprendem a superar o sentimento de ódio mútuo e, ao final, eles percebem que estão completamente apaixonados e resolvem enfrentar os preconceitos de ambas as famílias para ficarem juntos. O romance, portanto, ridiculariza a noção de "amor à primeira vista" e tenta nos mostrar que relacionamentos satisfatórios só podem se desenvolver gradualmente.

Não é à toa que Austen planejou, originalmente, entitular seu livro de "First Impressions" ("Primeiras Impressões"). O livro trata do impacto inicial que a imagem de um indivíduo pode provocar no outro. Há uma passagem em que Jane afirma o quanto Mr. Darcy tem dificuldade de demonstrar ter um bom temperamento, o que é diferente de realmente não ter um bom temperamento, como poderíamos complementar. O título original não foi adotado, pois uma escritora contemporânea, Mrs. Holford, publicou um romance com esse antes.
A obra explora os costumes da época e satiriza o comportamento fútil e interesseiro das pessoas, com uma aguda percepção, capaz de dar ao romance inglês um primeiro impulso à modernidade. A autora se utiliza de bailes, jogos de baralho, visitas, passeios diurnos e cartas para levar à interação de seus personagens e, dessa maneira, nos apresenta aos meios de socialização do período.
Austen nos coloca frente a um duelo entre as verdades universamente conhecidas da sociedade e os autênticos sentimentos humanos, ou seja, entre o conformismo e a capacidade de cada um de formular suas próprias opiniões. O choque de idéias se desdobra em uma ironia na primeira linha do livro: "É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa." E os costumes, bem como o excesso de interesse das famílias da época, vem logo a seguir: "Por muito pouco que se conheçam os sentimentos ou modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez numa vizinhança, esta verdade encontra-se de tal modo enraizada nos espíritos das famílias circundantes que ele é logo considerado como propriedade legítima desta ou daquela de suas filhas." A única maneira que as moças do período tinham de garantir um bom futuro era através do casamento, e não podemos culpá-las, pois o espaço das mulheres na sociedade era ínfimo e havia uma enorme quantidade de requisições para que uma moça de família fosse tida como um bom partido, como saber cozinhar, desenhar, cantar, tocar piano e, é claro, ter um belo dote. Podemos perceber, dentro da ironia da autora, discretas noções feministas imputadas nas entrelinhas da obra.
A mais amada obra de Austen é uma história memorável sobre a falta de veracidade das primeiras impressões, sobre o poder da razão e sobre a estranha dinâmica que envolve os relacionamentos humanos e as emoções. A leitura de "Pride and Prejudice" não deve ser feita da mesma maneira que se lê um romance contemporâneo insípido, mas prestando atenção na riqueza dos conceitos comportamentais e emocionais que existem até hoje, apesar de se apresentarem de uma outra maneira. Através de qualquer âmbito, no entanto, pode-se afirmar que o livro é espetacular.

Video-curiosidades:
Em 1940, surge a primeira adaptação cinematográfica do filme, estrelando Greer Garson e Laurence Olivier.
O filme "O Diário de Bridget Jones" é uma adaptação moderna, estrelando Renne Zellweger como Elizabeth e Colin Firth como Mr. Darcy.
Finalmente, em 2005, sobre a direção de Joe Wright e com a indicada ao Oscar Keyra Knightley, como Elizabeth e Matthew Macfaydyen, como Mr. Darcy, uma adaptação pela qual eu tenho um carinho especial.

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